sexta-feira, 26 de junho de 2009

Capítulo 05 • Party.

• Comunicado •
Bom, primeiramente gostaria de agradecer aos comentários recebidos no último capítulo. A verdade é que só descobri sobre a existência dos mesmos hoje, quando, por acaso, visitei o blog. Pensei que tinha fracassado, já que o tópico lá na CH morreu. De qualquer forma, voltarei a postar aqui e aproveitarei a oportunidade para deixar os outros links onde a web pode ser encontrada.
A comunidade oficial já encontra-se atualizada com todos os capítulos postados até então. Para aqueles que se perderam ou querem ler mais do que os capítulos postados aqui, é a melhor opção. :D
Para quem tem mais paciência e está disposta a encarar os 3.500 posts, o tópico na Só Webs, onde a web foi postada originalmente, é outra opção.
Enfim, acho que é só. Obrigada a todos que estão lendo e opinando, ok? É isso que incentiva a continuar escrevendo e, sobretudo, aprimorando.
Enrolações à parte, vamos ao capítulo cinco! :D
Capítulo 05 • Party

(Festa)

- Sarah? – Esperei por algum sinal do outro lado da linha para que só então eu continuasse. – Cara, eu nunca precisei tanto de uma festa. Vai ter que ser aí, sério. Esse roceiro tá me tirando do sério. Tô quase matando esse idiota.
- Calma, Kait. O que ele fez? – Sarah indagou do outro lado da linha.
- Nasceu e isso basta. Velho, ele é o roceiro mais estúpido que eu já conheci. Como pode ser tão... baixo? Ele tá me chantageando, dude! “Só paz, Kaitlin”. – Disse tentando fazer uma voz fina e irritante.
- Ele sabe do lance do carro, né? Fudeu, velho. Você vai ter que ficar pianinho se não quiser perder toda a diversão por, sei lá, tipo assim, uns dois meses? Ainda mais se a sua mãe for do tipo tia coruja...
- Velho, eu vou matar esse cara, é sério. Enquanto eu planejo o assassinato, entretanto, vou chamar o pessoal e a gente passa em sua casa hoje, ok? Eu realmente preciso de um pouco de diversão antes de planejar o crime mais doloroso e perfeito do mundo. Eu vou pro livro dos recordes, Sarah. Você vai ver. Pode até começar a se orgulhar de mim.
- Parabéns, Kait. Eu já me orgulho de você, ok? Mas, apesar de todo esse orgulho, eu não sei se vai poder ser aq..
- Eu sei que você vai conseguir, gata. Tenho certeza absoluta de que conseguirá organizar absolutamente tudo para a nossa pequena reunião. – Interrompi antes que ela inventasse alguma desculpa que eu não pudesse burlar. – Vou chamar só a nossa galera e o Jake, que é para conseguir a bebida, ok? A gente se vê mais tarde.
- Só para conseguir bebida, né? - Ela riu e eu ignorei, desligando o telefone.
Imediatamente iniciei a minha maratona de ligações. Primeiro, o Jake. Ainda devia alguns agradecimentos por tudo que ele havia feito por mim na madrugada passada. Chamou uma, duas, três vezes. Em vão: a voz mecânica irritante insistia em dizer que o número estava fora de área ou desligado. Talvez uma mensagem resolvesse.


Acho que te devo um agradecimento, não? Por ontem a noite, quero dizer. De qualquer forma, o pessoal vai dar uma “festinha” lá na casa da Sarah (Main Street, n° 15. Segunda a direita depois do Zusak’s Market). Se quiser, aparece por lá, tá? Acho que o gerente não se importaria de ficar no lugar do chefe por algumas horinhas. K.


Missão devidamente cumprida. Vamos ao Luke. Mensagem? Não. Havia tempo que não nos falávamos e, tipo assim, namorados costumam se falar com mais freqüência. Uma ligação pareceria menos frio? Acho que sim.
- Fala, minha gata! – Ele respondeu entusiasmado após o telefone chamar duas vezes.
- Oi, Luke. E aí?
- Tudo bem, e com você? Sumiu esses dias...
- É, tive uns probleminhas com o carro...
- Problemas? O que aconteceu? – Ele parecia preocupado.
- Te conto hoje, lá na casa da Sarah, ok?
- Isso é um convite?
- Não. É uma ordem. – Ele riu, embora eu estivesse falando muito sério.
- Ok. Estarei lá.
- Se importa de passar para me pegar?
- Claro que não, amor. Passo aí sim. Até mais tarde, então?
- Claro.
- Amo você. - Antes de responder, porém, desliguei.
Continuei com os telefonemas até já ter chamado os essenciais para toda e qualquer festa. A Jennifer não poderia vir, mas, com exceção da ausência da mesma e da presença do Jake, a reuniãozinha seria como de costume: eu, Luke, a Sarah, Brian (namorado da Sarah) e a Megan. É, acho que daria para me divertir.
Percebi que a minha barriga roncava e, após notar que já passava da uma da tarde, resolvi me arrumar e descer para comer algo enquanto esperarava pelo Luke e pela sua bendita carona.
Tomei uma banho demorado e senti a água morna relaxar os meus músculos. Sequei os cabelos e vesti uma calça skinny, uma bota de camurça, uma baby-look pólo básica e um colete de cetim. Tirei a franja dos olhos e deixei que os meus cabelos lisos ficassem livres o bastante para que as pontas ondulassem levemente e valorizassem as mechas mais claras coloridas pelo sol.
Desci as escadas saltando os degraus de dois em dois e fui até a cozinha, disposta a preparar um sanduíche ou qualquer outra coisa industrializada que fosse prática e gostosa o bastante. Infelizmente, acabei encontrando com o Adam e quase perdi a fome.


Ouvi o barulho de passos e me virei para ver quem estava chegando. Era a Kaitlin. Pelo visto teria alguma festa para ir ou qualquer reunião que a tirasse de casa, pois havia lavado os cabelos e estava completamente arrumada. A roupa era simples, mas parecia cair como uma luva sobre o seu corpo bonito. A bota por cima do jeans justo, o colete por cima da camiseta básica. Definitivamente, ela sabia se vestir - ainda que sem tanta cara de Califórnia.
Acompanhei-a com o olhar e a vi ir direto ao armário, procurando por mantimentos que pudessem matar a sua fome. Industrializados, é claro. Manter o peso comendo tantas porcarias quanto ela comia era um milagre e tanto. Tentei me controlar, mas a minha língua não conseguiu se manter dentro da boca:
- Veio preparar a minha Nevada, priminha? – Ironizei jogando o pescoço para o lado e rindo torto. Irritá-la era o único jeito de ultrapassar aquela barreira que ela havia construído em volta de si mesma. - Demorou muito, inclusive. Da próxima vez vou querer mais agilidade, hein? Cadê o profissionalismo?
- Foda-se, Adam. – Uou, mais grossa do que eu esperava. Senti o olhar dela me fuzilar (o que estava se tornando cada vez mais comum) e continuei com o sorriso no rosto. Ela não estava acostumada a ser contrariada, a dividir. Podia perceber isso em seu olhar.
- Você fica mais bonita assim, irritada. – Estava sendo sincero e já não conseguia segurar o riso, o que a irritava ainda mais. Se é que isso é possível, claro.
Ia completar as provocações, mas a tia Marissa chegou na cozinha bem na hora.
- Rindo de alguma piada, querido? – Ela sorriu gentilmente, enquanto me olhava com ternura.
- Sim, sim, tia. A Kaitlin estava me contando sobre os costumes californianos. Ainda me parecem estranhos, na verdade. Festas de biquini, tantas discotecas e todos esses lances, sabe?
- Ah, que bom que você e a Kaitlin estão se dando bem, meu amor. – A loira disse e afagou os cabelos da filha.
- Estamos? – A morena indagou e pude ver que as maçãs do seu rosto continuavam vermelhas como no momento da minha pequena chantagem. Acho que ela ficava assim sempre que estava irritada. Sim, eu estava começando a reparar nos detalhes.
- Estão. - Marissa respondeu e aquilo não era, de forma alguma, uma pergunta. - Vai sair, Kaitlin?
– Sim. O Luke vem me pegar e a gente vai para a casa da Sarah. Não que eu te deva maiores explicações, é claro, mas é sempre bom saber e tudo o mais.
- Que bom! Vai ser ótimo para o Adam! Ele vai adorar conhecer gente nova. Fará bem para ele.
- Ele não vai. – Kaitlin respondeu ríspida.
- Mas é claro que vai, Kaitlin. E espero que não esteja esquecida do nosso combinado. O Adam vai ficar bem, muito bem – Marissa enfatizou o "muito bem". - Ou você esqueceu do nosso combinado? - Que combinado? Eu estava no meio de uma briga de família ou era impressão minha? Ela continuou. - Espero que não tenha se esquecido e, caso tenha, é bom que lembre-se agora mesmo. - Deu o assunto por encerrado e virou para mim, falando gentilmente. - Agora vá se arrumar, querido.
Sorri para a tia Marissa e deixei-a com a Kaitlin na cozinha. Não queria presenciar brigas que, muito provavelmente, estavam sendo provocadas pela minha presença. Segui para o quarto da piscina, tomei uma ducha rápida e me troquei. Uma camisa pólo, um tênis mais largado e um jeans surrado pareceriam bons o bastante para a minha cidade natal, mas agora eu estava na Califórnia. Será que isso era o bastante? Não sabia, porém não liguei. Iria assim, de qualquer forma. Ouvi um barulho de buzina que supus ser o do carro do tal do Luke e deixei o aposento.
Quando cheguei na sala, a Kaitlin já esperava por mim no hall de entrada. Um cara alto e loiro segurava a sua cintura e falava animadamente com a tia Marissa. Parecia um daqueles jogadores de pólo aquático populares das escolas americanas. Cheirava a arrogância e, se quer mesmo saber a minha opinião, parecia um idiota ao lado da Kaitlin. O sentimento, entretanto, não parecia recíproco. De qualquer forma, eram só opiniões baseadas em observações feitas às pressas.
- Claro, dona Marissa. Pode ter certeza quanto a isso. Ela está em boas mãos. - Ouvi-lo dizer e beijar a bochecha da namorada logo em seguida. Ensina a ele como tratar uma mulher, God.
- Adam! Finalmente você se aprontou! – Marissa disse com empolgação assim que adentrei o aposento. – Deixe-me lhe apresentar ao Luke, o namorado da Kaitlin!
- What’s up, man. – Eu disse sem graça oferecendo a mão para um cumprimento, que, diga-se de passagem, não foi bem retribuído.
- E aí, cara. – O loiro disse friamente e imediatamente voltou-se para a namorada. – E então, amor? Podemos ir?
- Aham. Tchau, Marissa. Devo chegar um pouco mais tarde. – Ela não parecia pedir, apenas comunicava. Pelo visto a relação entre mãe e filha é um tanto quanto aberta nessa casa. De fato, a Kaitlin não estava acostumada a ser contrariada. Isso iria mudar. Ah, iria.
- Tchau, tia. – Despedi-me dando um beijo em cada uma das suas bochechas e um abraço frouxo.Saímos pela porta de vidro e entramos no carro importado - será que as pessoas daqui desconhecem o que vem a ser um carro popular? – do Luke: a Kaitlin ocupou o banco do carona, ao lado do namorado, enquanto eu fiquei com o banco traseiro.
A viagem sucedeu-se tranqüila, embora as piadinhas extremamente sem graça e fúteis do Luke estivessem me tirando do sério – e eu não era o único. A Kait parecia completamente aérea ao assunto e praticamente não prestava atenção nas palavras que saiam da boca do loiro. Interessava-se pela conversa apenas em raros momentos, como naqueles em que ela colocava todo o seu estoque de cortadas e ironias em ação.
- Cara, quanto tempo não ouvia essa música. – Comentei ao ouvir a música que passava no rádio. Quebrar aquele silêncio constrangedor podia fazer bem, afinal.
- Nem sabia que tinha rádio na sua roça. – A Kaitlin comentou e virou o rosto para me encarar com um sorriso ridículo no rosto. Tá, não era ridículo e sim... sacana no sentido ruim da palavra, se é que me entende.
- Tem rádio sim, priminha. Só não tem Nevada e todos esses drinks, mas isso não é problema, né? Agora eu tenho você para preparar quantos eu quiser. – Dei uma piscadela e, inclinando o rosto para o lado, retribui o sorrisinho sacana e sarcástico. Um a um, Kait.
A morena voltou a se calar e só abriu a boca novamente quando o seu celular tocou.
- Oi, Megan! Já chegou? – Atendeu e, pelo seu tom de voz, parecia verdadeiramente empolgada.
A tal da Megan falou alguma coisa do outro lado da linha que fez com que a Kait arqueasse uma das sobrancelhas e só voltasse a falar depois de alguns instantes:
- Tá, tá, tá. Já entendi. Eu peço para o Luke passar ai para te pegar e você traz a sua prima ou seja lá o que for. Espero que ela não seja chata.
A Megan voltou a responder e dessa vez a resposta deve ter sido engraçada, pois fez com que Kaitlin risse antes de desligar de uma vez por todas o telefone.
- A Megan recebeu visita. A filha de uma amiga da mãe, prima, sei lá. Algo do gênero. Agora ela não tem como ir, porque o carro do pai, que iria dar carona a ela, está lotado com uns arquitetos, acho. – Kaitlin explicou e só então encarou o Luke. - Não entendi direito, mas será que dava para você pegá-la?
- Claro, amor. – Ele sorriu meio bobo. Poderia ser romântico e tudo o mais, mas aquilo era... estranho. Um cara daquele tamanho se derretendo todo daquele jeito.
- Não vai demorar, ok? Prometo. – Selou os lábios em um beijo rápido e insosso e voltou a olhar para frente.
Silêncio. Que tipo de casal se mantêm em silêncio por tanto tempo, hein? Quero dizer, tudo bem que eu estava atrapalhando o momento que poderia ser só deles dois - não que eu realmente me importasse por estar bancando o "primo que veio de longe só para assumir o lugar de inconveniente" -, mas isso não justificava. Quando a intimidade existe, a conversa rola e não há como fugir. Ou pelo menos não rola constrangimento no meio do silêncio, se é que me entende. De qualquer forma, esse blábláblá cheio de sentimentalidades nunca me interessou. Apenas observei porque... era meio difícil tirar os olhos dela - ou, dependendo do ângulo, das pernas dela.
O clima dentro do carro só se tornou menos frio com a chegada de uma loira dos olhos azuis, a Megan, e da sua “prima/amiga/ainda descobriria o quê”, uma garota de cabelos castanhos que se apresentou como Daily. Quando chegamos à casa, uma mansão amarela e que ficava em mais um desses condomínios de luxo extremamente arborizados, as duas já estavam prontas e uma única buzinada foi o suficiente para que ambas apressassem-se a aparecer na porta e a entrar no veículo.
- Esse é o Capiria, Meg. A Sarah deve ter comentado contigo... Ele veio da roça para passar uns tempos aqui em casa. – A Kaitlin me apresentou sem o menor vestígio de entusiasmo na voz.
- Não liguem para ela. Não sabe o que diz, tadinha. – Sorri tentando parecer o mais simpático possível. – Ela está irritada desde que eu disse que a Nevada dela parecia ter sido feita para menores de três anos, já que a concentração de álcool não embebedaria nem a um bebê. – Ri irônico ao perceber que a Kait me olhava furiosa. A Megan e a Daily riram. – De qualquer forma, eu sou o Adam. – Estendi a mão para a Megan, que havia se sentado na outra janela, e dei um beijo na bochecha da Daily, que estava sentada ao meu lado.
- Prazer, Adam. Pode me chamar de Daily. - A garota sorriu e beijou o canto da minha boca displicentemente. Uou.
Agradeci a gentileza e tive a impressão de ouvir um “eca” sair da boca da Kait. Impressão ou não, foi ignorado. Continuei conversando com a Daily, que se mostrou extremamente simpática e infinitas vezes mais receptiva do que a minha prima, até chegarmos ao prédio que supus ser o onde a Sarah morava. O porteiro, já familiarizado com a maioria das pessoas presentes, apenas pediu a minha identificação e a da Daily. Devidamente identificados, a permissão para entrar nos foi concedida e subimos para o apartamento.
A porta já estava aberta e não demorou muito para que eu reconhecesse o cara que estava sentado no sofá com um cigarro entre os dedos e um copo de whisky nas mãos: era o mesmo homem do conversível vermelho que havia deixado a Kaitlin em casa na madrugada passada, quando (mal) dormi sobre a mala.
- VADIIIAS DA MINHA VIDA! - Uma ruiva desvairada se jogou sobre os braços da Megan e da Kaitlin, me assustando com o seu berro desesperado. Tá pensando que cachaça é água?
- Saaarah, vadia! Caralho, quantas garrafas você já secou, hein? - Megan perguntou enquanto retribuia o abraço e levava a ruiva para o sofá. Kaitlin e Luke riram, mas eu e a Daily permanecemos imóveis.
- Cara, acho que bebi umas... - Abriu a mão e começou a contar os dedos. Sua fala embolava e seus movimentos pareciam meio lentos e descontrolados. - Uooooou! Não faço a mínima idéia. Só sei que esse estranho aí trouxe muita coisa boa. - Se jogou no sofá e riu loucamente. Definitivamente, ela havia perdido não só as contas, mas também a coordenação motora e... mental.
- Eu tentei detê-la, juro. Mas vocês sabem como ela é. Na verdade, acho que a única que se salva aqui é a Megan. A Kaitlin é outra que não aguenta ver álcool. - Um cara mais magro e alto que o Luke saiu da cozinha e cumprimentou as garotas com dois beijos estalados na bochecha e o Luke com uma batida seguida de um murrinho com as mãos.
- E aí, man? Tranquilo? Esse deve ser o tal do... - Ele virou-se para mim, mas foi interrompido antes que pudesse completar.
- Sim, é o Da Roça, Brian. - Sempre a Kaitlin. Eles riram. - E essa é a Daily, uma amiga da minha mãe que veio passar as férias aqui em casa. Costumávamos nos ver todos os anos, nas férias de verão. - Megan apressou-se em apresentar a garota que, como pude perceber, era uma amiga.
- Prazer, Daily. - O Brian cumprimentou a... como podemos chamar uma pessoa que não é nem loira nem morena? Castanha? Enfim, cumprimentou-a com um beijo na bochecha e reproduziu o cumprimento que antes tinha usado com o Luke ao falar comigo. - E ai? Tá gostando?
- Ainda não tive muito tempo para conhecer a cidade, na verdade. - Respondi.
- Eu também não, mas acho que já tenho motivos suficientes para gostar de São Francisco. - A Daily disse e olhou para mim com um sorrisinho nos lábios. Uou, round two.


O que leva uma garota a se rebaixar tanto? Sim, porque, até onde eu saiba, o nome disso é se rebaixar. Ainda mais quando se trata de um caipira. A Daily estava, simplesmente, se oferecendo descaradamente para o Da Roça. Oferecendo não. Melhor do que isso: se ofertando. Ofertando tipo macumba, sabe? Pois é, mas isso não é problema meu.
Entrei e fui falar com o Jake, que permanecera quieto durante as apresentações e cumprimentos. Fui seguida pelo Luke, Brian e Megan, deixando os outros penetras parados no hall de entrada. Demorou alguns segundos para que eles se tocassem que não receberiam um generoso “entrem, queridos” ou qualquer outra coisa do gênero e finalmente entrassem e se espalhassem pela casa.
- Jay. Então eu estava certa em pensar que o gerente não se importaria em mostrar serviço por algumas horas. – Sorri e inclinei o meu corpo para arrancar o cigarro de seus dedos e cumprimentá-lo com um beijo em cada bochecha sem que o mesmo tivesse que se levantar. Embora estivesse de costas, senti os olhares se voltarem para mim e um clima de tensão se espalhar pela casa. A verdade era que eles, principalmente o Luke, não conviviam bem com o fato de eu continuar sendo amiga do meu patrão/ex-rolo.
- Claro, Kait. Esse é o trabalho dele, afinal. – Ele sorriu sem maiores exageros ou proximidades. – A bebida tá no bar, a propósito. – Gesticulou em direção ao bar mogno que decorava o canto da sala. – Tomei a ousadia de guardá-la depois que a sua amiga Sarah começou a cantar e a dançar Britney Spears pela sala.
Assenti com a cabeça e ainda rindo com a imagem da Sah dançando “Baby one more time” me dirigi ao bar. Dei uma olhada nas garrafas e escolhi o drink que faria.
- E então? Alguém quer “After Sex”? – Chacoalhei as garrafas e apanhei os copos enquanto os outros concordavam com a cabeça e começavam a se esparramar pelos sofás e poltronas.
Misturava os drinks quando o Luke envolveu a minha cintura por trás em um abraço apertado e massageou os meus braços com a ponta dos dedos.
- Seu namorado também merece um pouquinho de atenção, né? – Perguntou baixinho ao meu ouvido, sem que ninguém pudesse ouvir.
- Claro. – Virei o rosto para o lado e selei os nossos lábios. - Lá pra cima? – Mordi os lábios sem desviar o olhar.
- Com certeza. – Ele assentiu e, dando alguns passos para a frente, fez com que eu andasse na direção que ele queria e deixasse um dos drinks inacabados. Ouvi a Megan chamar o meu nome e antes que ela pudesse terminar, previ qual seria o motivo da possível reclamação.
- Só tem um sem fazer, Meg. É só bater.

[...]

O 'click' emitido pela porta ao ser trancada indicou o começo dos beijos mais quentes. A sua boca tocou a minha e a sua língua percorreu com agilidade o contorno dos meus lábios, que não demoraram a se entreabrir, permitindo a passagem. As nossas línguas finalmente se encontraram e se cruzaram com um pouco de pressa. Havia tempo que não nos víamos, de fato.
Senti as suas mãos pressionarem a minha cintura, e os seus passos me fizeram recuar em direção a cama. Caí e poucos instantes depois o corpo dele misturava-se ao meu. Nossas bocas se separaram e percorri o seu pescoço com os lábios úmidos e ainda entreabertos, ocasionando alguns arrepios.
Ele me virou rapidamente e no instante seguinte era eu quem estava por cima. Apoiei o meu peso sobre os joelhos deixando as mãos livres para tirar o meu colete, que começava a grudar em meu corpo suado. Desabotoei os botões enquanto o Luke olhava fascinado e passeava delicadamente com as mãos pelas minhas pernas.
Livrei-me da peça e joguei-a para longe, voltando a unir os nossos corpos e retomando os beijos e carícias no pescoço do loiro.
- Precisava disso depois da madrugada estressante... – Pensei alto e os meus pensamentos acabaram se transformando em um sussurro ao pé do ouvido.
- O que aconteceu, afinal? – Ele perguntou, já um tanto quanto ofegante.
- Tanto faz. – Desconversei e continuei a beijá-lo.
- Eu quero saber, vai. Me preocupo com você. – Ele insistiu.
Desisti de continuar com aquilo e sai de cima dele, sentando-me na cama com as pernas dobradas. Respirei fundo, joguei a cabeça para trás e apoiei-a nas mãos logo em seguida. Por que ele sempre tinha de acabar com os momentos como aquele e priorizar o que não merece ser priorizado?
- E então? O que aconteceu? – Disse sentando-se ao meu lado e apoiando as costas na cabeceira da cama.
- Eu tava no Fantasy quando a minha mãe me ligou para avisar da chegada do caipira e para dizer que eu teria que estar em casa para liberar a sua entrada e tudo o mais. Tive que sair mais cedo do trabalho, tava rolando blitz, apreenderam o carro e o resto é história. – Resumi. É, em momentos como esse os detalhes somem.
- Apreenderam? – Ohh. Quanto espanto.
- Sim, apreenderam. – Respondi secamente.
- E como você conseguiu um táxi assim, de madrugada, bem no meio da 101?
- Não voltei para casa de táxi. Liguei para o Jake e ele foi me pegar. Passamos na delegacia e a essa hora o carro já deve ter sido entregue ao porteiro. Ou não. – Ele, que ouvia atentamente, pareceu se espantar.
- Ligou para... o Jake?
- Yep. J-a-k-e. – Soletrei bem lentamente, tentando fazê-lo entender.
- Você deve estar de brincadeira, só pode. – A voz dele começava a se alterar.
- Ahn? - Perguntei sem realmente entender o que estava acontecendo.
- Caralho, Kaitlin! – Ele levantou-se subitamente me puxando pelo braço e segurou firmemente o meu pulso. – Você trabalha com esse cara, convida esse cara para as NOSSAS festas e quando você deveria ligar para mim, que sou seu namorado, o primeiro número que passa pela sua cabeça é o DELE? Porra, você acha que eu sou o quê? O otário para ficar correndo atrás de você?
- Me larga, Luke. – Tentei soltar o meu braço.
- Me larga? Larga o Jake, Kaitlin! Porque, pelo visto, é impossível para você, né?
Ele estava fora de si. Os seus olhos tinham um brilho que nunca tinha visto antes e pareciam fora de foco. Começava a falar cada vez mais alto e a chacoalhar o meu corpo com força.
- ME SOLTA, LUKE! Você tá me machucando. – Aumentei o tom de voz tentando falar mais alto do que ele, que já se preparava para despejar mais verdades em minha cara.
Ouvi o barulho da maçaneta sendo forçada e um outro ‘click’ indicou que ela havia sido destrancada. A porta, então, se abriu.

Fim do capítulo 05 • Party